2.8.10

Leiam com atenção e sintam-se no paraíso!

Time alerta para a situação das mulheres no Afeganistão e o risco do retorno do Talibã

QUI , 29/7/2010 
LETÍCIA SORG
 MULHERES TAGS: 

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assumiu o cargo pressionado a retirar o mais rápido possível as tropas do país do Afeganistão e do Iraque – e acabar com as mortes de militares americanos. Os documentos sigilosos revelados pelo site Wikileaks dão outras razões para os EUA baterem em retirada: evitar novas ações militares desastrosas, com vítimas civis, e, claro, os escândalos e a crítica internacional.
Na edição desta semana, porém, a revista Time defende que os Estados Unidos mantenham sua presença no Afeganistão e vejam com suspeita a possibilidade de diálogo com o Talibã, aberta pelo presidente Hamid Karzai. Se as tropas americanas saírem, as mulheres do país podem sofrer – ainda mais.
Para defender sua posição, a revista publica, em sua capa, uma foto chocante da afegã Bibi Aisha, de 18 anos. O Talibã extirpou o nariz e as orelhas da jovem como punição à sua tentativa de fugir de casa, de uma família que a maltratava. Aisha quer que todos vejam os possíveis efeitos da volta do Talibã ao poder.

A reportagem, escrita por Aryn Baker, mostra o avanço dos direitos das mulheres no Afeganistão depois da entrada dos Estados Unidos e o medo delas de perder esse espaço que, embora precário, é um progresso em relação aos tempos anteriores.

Richard Stengel, diretor de redação da Time, diz que ponderou antes de colocar a imagem na capa e pede desculpa aos leitores que a considerarem forte demais. “Mas coisas ruins acontecem com as pessoas, e é parte do nosso trabalho confrontar essa realidade e explicá-la. No fim, senti que essa imagem é uma janela para a realidade, para algo que está acontecendo – e que pode acontecer – em uma guerra que nos afeta. Eu preferi confrontar os leitores com o tratamento do Talibã às mulheres a ignorá-lo”, escreve Stengel no editorial que apresenta a capa.
Stengel também revela que temia pela segurança de Aisha, que ousou denunciar a repressão às mulheres no Afeganistão. Desde a publicação da revista, a jovem está em um lugar sigiloso, com escolta armada, paga pela ONG Mulheres pelas Mulheres Afegãs.
Em breve, Aisha se submeterá a uma cirurgia para a reconstrução de seu rosto. Espera-se, porém, que a imagem de sua face mutilada ajude a proteger outras mulheres do horror.

A voz das mulheres afegãs

Mustafa Najafizada / AP
DRAMA Ciclista passa por duas mulheres pedindo esmola em Mazar-e-Sharif, ao norte de Cabul. Opressão do Talibã e de uma sociedade majoritariamente retrógarada fez várias profissionais afegãs caírem na pobreza

Após nove anos de ocupação do Afeganistão pelos Estados Unidos e seus aliados, o fim do grupo radical islâmico Talibã não parece mais uma opção factível. Há um consenso entre os líderes da coalizão de que a administração americana e o presidente afegão, Hamid Karzai, terão que fazer acordos com os membros mais moderados da facção para estabilizar o país a ponto de permitir o fim da ocupação. A opção pela negociação é elogiada por analistas e generais, mas é encarada com enorme ceticismo por organizações ligadas aos direitos humanos e, principalmente, pelas mulheres afegãs. Se o grupo radical ganhar espaço político e influência oficial nos rumos do país, as poucas liberdades que as mulheres conseguiram conquistar nos últimos anos estarão em perigo. 

Em quase todos os períodos da história do Afeganistão, antiga ou recente, as mulheres foram as mais afetadas pelas tragédias vividas pelo país. O governo progressista de Mohammad Daoud Khan (1973-78) foi um dos poucos no qual houve melhorias. Com ele no poder, as mulheres das maiores cidades começaram a entrar no mercado de trabalho e a desfrutar de algumas liberdades. O governo comunista que depôs Khan (em 1978) reprimia comportamentos e rituais tribais e também melhorou a situação das mulheres, tornando compulsória a educação feminina, proibindo casamentos de menores de 16 anos e abolindo o pagamento por noivas. As mulheres ganharam importância como médicas, professoras e até na política, mas a emancipação feminina parou por aí. 

O preconceito é uma das grandes barreiras que as escritoras do AWWP precisam superar para divulgar as histórias de seu cotidiano. "Escrevo em Farah, um província no oeste do Afeganistão com um baixo nível de educação, e muitos homens não gostam que eu escreva e não entendem por que eu faço isso", escreveu no site uma mulher identificada apenas como Seeta. "Eles tentaram me fazer parar, mas eu nunca desisto", diz. Tabasom, que também não usa seu sobrenome, caminha quatro horas até uma cidade grande para conseguir uma conexão com a internet. Ela recebeu um laptop do AWWP e conta com a ajuda do irmão, que caminha com ela sempre que Tabasom deseja publicar textos no site. Se andasse sozinha, ela provavelmente seria castigada pelo Talibã, que ainda controla a província em que ela mora e não permite que uma mulher saia sem a companhia de um homem. 
O domínio que o Talibã tem nas duas maiores províncias do sul do Afeganistão – Helmand e Kandahar – é conhecido, mas nos últimos meses pelo menos oito províncias do norte do país estão sob pesado ataque de insurgentes. Na quarta-feira da semana passada (21), insurgentes tomaram um posto policial no distrito de Dahne Ghore, na província de Baghlan, e decapitaram seis policiais. A simples aproximação de integrantes do Talibã das cidades tem feito com que as mulheres das províncias do norte, antes a região mais segura do país, passem a usar a burca com mais frequência. É com os membros moderados deste grupo que os Estados Unidos e o governo do Afeganistão pretendem negociar. “Essas mulheres não sentem que haverá um Talibã moderado que vai preservar seus direitos de estudar, trabalhar ou mesmo de sair de casa para ir ao médico”, disse Masha Hamilton a ÉPOCA (confira a entrevista íntegra). 

No site da AWWP, um dos depoimentos mais significativos é intitulado “Caro presidente Obama”. No texto, uma afegã chamada Shogofa faz um apelo para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. “Aqui todos pensam em política, mas ninguém pensa na vida humana”, diz ela. Shogofa, em um texto que é também um protesto contra a ocupação americana – ainda mais exposta pelos escandalosos documentos divulgados pelo site Wikileaks nesta semana – segue dizendo que o Afeganistão está cansado de guerra e não precisa de armas, mas sim de educação. “Em vez de mandar um exército para matar, envie professores. Mostre ao meu povo como trabalhar unido”, diz. 

O desafio dos Estados Unidos, e do resto do mundo, é gigantesco. É preciso conter as pressões para tirar as tropas do Afeganistão, e ao mesmo tempo, fazer florescer no país uma sociedade que não transforme o Afeganistão, novamente, em um buraco negro dos direitos humanos, principalmente das mulheres. Por enquanto, o país claramente não está pronto para ser abandonado. A explicação está nas palavras de Roya, uma das escritoras afegãs do AWWP. “A democracia é uma noiva azarada no nosso país, porque não há bons exemplos. É nossa amiga estranha, pois não sabemos o que ela é de verdade”.

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