Clique na imagem para ampliar Em matéria de página inteira, o jornal La Tercera, do Chile, conta "a história de Dilma Rousseff e seu passado como guerrilheira no Brasil". Leia.
Por Alejandro Tapias - Em 1964, quando se desencadeou o golpe militar no Brasil, Dilma Rousseff, ministra e candidata presidencial do Partido dos Trabalhadores (PT), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tinha 17 anos e iniciava os estudos de Ciências Sociais, no Colégio Estadual Central de Belo Horizonte. Pouco tempo depois, começou a militar em um grupo marxista que pegou em armas contra a ditadura, ação que lhe custou três anos de prisão, onde foi torturada.
"Nunca mais viveremos em uma jaula ou uma prisão", disse Rousseff, em um comício do PT. A frase tem um fundo de verdade porque Dilma herdou de seu pai, um advogado búlgaro de passado comunista, um imóvel que acabou se tornando sede de atividades políticas de esquerda. Nesse mesmo ano, o grupo que havia se formado - Política Operária (Polop) - passou a chamar-se Comando de Libertação Nacional (Colina). Rousseff e o marido, Claudio Galeno, passaram então para a clandestinidade.
A candidata do PT não costuma se referir com frequência ao seu passado. Mas Rousseff iniciou sua militância na Polop. Nesse perído, conheceu Claudio Galeno que havia estado preso e se tornaria seu marido. Alguns afirmam que Galeno fabricava bombas, porque ele costumava dizer a seguinte frase: "Construí caixas com dispositivos eletromagnéticos para guardar documentos secretos". A idéia era que se a caixa fosse aberta, explodiria. Dilma e Galeno casaram-se em 1967, com 19 e 25 anos, respectivamente. Nesse mesmo ano, começaram a fazer parte da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (Val-Palmares).
"Wanda", "Marina", "Luiza"
Dilma Rousseff morou em diversas cidades, adotando codinomes como "Vanda", "Marina" ou "Luiza". Foi nessa fase que acabou sua relação com Galeno. Em 1969, participou de reuniões secretas em São Paulo e Rio de Janeiro, enquanto o grupo Colina se juntava a outros grupos armados para formar a guerrilha o grupo guerrilheiro Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (Var-Palmares).
Segundo o jornal Folha de São Paulo, foi nessa época que Rousseff foi enviada a um campo de treinamento militar no Uruguai, fato reconhecido pela ministra recentemente. Dilma também participou de operações para "arrecadar fundos" e em uma tentativa de sequestro do então ministro da Fazenda, Delfim Neto, fato este que ela desmente. Segundo a revista Veja, Rousseff coordenou, em 1969, o assalto ao governador paulista Adhemar de Barros, de quem a guerrilha roubou US$ 2,5 milhões, que ele guardava na casa da amante.
No dia 16 de janeiro de 1970, em São Paulo, Dilma foi presa durante um encontro com um "companheiro", que havia sido preso antes e obrigado a ir à reunião com "Dilminha". Ela foi interrogada durante 45 dias, período no qual foi torturada. Posteriormente, passou quase três anos atrás das grades, após ser condenada por um tribunal militar.
Até agora, a ministra nega haver participado de ações armadas e sequestros de maneira direta, mas a imprensa brasileira tem dúvidas. Ao ser libertada, no final de 1972, um militar a advertiu: "Se fizeres alguma coisa, vais morrer com a boca cheia de formigas".
ENTREVISTA
Os eleitores sabem muito pouco de Rousseff
Alejandro Tapias entrevista o cientista político e acadêmico brasileiro, Bolívar Lamounier.
O passado de Rousseff durante o regime militar é um tema importante na campanha?
Bolívar Lamounier - Não se pode dizer que seu passado já é um tema de campanha, porque em sua imensa maioria os eleitores não possuem tal informação. Na verdade, sabem muito pouco sobre ela.
De que maneira o eleitor mais bem informado é influenciado pelo fato de que ela foi torturada?
Lamounier - Se a imagem e a informação de que a candidata sofreu torturas surgir como tema de campanha, uma parte do eleitorado poderá ficar comovida. Mas também pode acontecer o oposto. É sabido que as organizações políticas de que ela participou também sequestraram e assassinaram.
Como Rousseff está conduzindo o fato de ter sido uma guerrilheira?
Lamounier - Lula sabe que esse pode ser um ponto vulnerável. Tanto é assim que a descreveu, em recente congresso do PT, em termos genéricos e claramente romantizados, como a menina de classe alta que não vacilou em lutar por justiça social e liberdade. Dilma se autodescreveu nos mesmos termos, bastante genéricos. Há dois anos, ao abordar o tema no Senado, também não entrou em detalhes.